terça-feira, 7 de julho de 2009

Carta aberta ao amigo Eduardo Albuquerque

l.(...) rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?
(Paulo Leminski - Distraídos Venceremos)


Escrever é uma chatice!”, disse Chico Buarque de Hollanda recentemente na Feira do Livro de Paraty. Para alguns, escrever, argumentar, responder, replicar e treplicar também deve ser muito chato. Talvez por isso, optem por uma maneira mais fácil de terminar uma discussão: Apresentam um novo fato e o relacionam com o que estava sendo discutido. Simples.

O senhor, Eduardo, é uma das cobras mais ardilosas que eu conheço. Discutir com uma pessoa de inteligência superior (quase um Daimon), como o senhor, exige esforço, estudo e muita pesquisa de quem está do outro lado. Gostaria de dizer que foi (e ainda é) um prazer ver minha postagem anterior despertando sua atenção e sendo discutida no seu blogue. Sua réplica apaixonada me encheu de emoção.


Vamos aos Fatos


Essa argumentação esquizofrênica de que fulano é rei porque inventou X e sicrano é súdito porque repetiu e/ou se aproveitou da fórmula alheia é digna é um idiota como eu. Não esperava uma bobagem dessas saindo da boca (ou do teclado) de uma das mais velhas raposas felpudas da Rede Federal de Ensino.

Na distante década de 50, o Rock'n Roll era um estilo de música essencialmente negro e quase todos os artistas (desse estilo) eram negros também. Convém lembrar também que nos Estados Unidos (principalmente nos estados sulistas) imperava a segregação racial (espero não precisar explicar o que acontecia). A população branca (por se considerar superior) não aceitava dividir o espaço com a população negra. Estes viviam nos subúrbios. O próprio Michael durante a infância viveu em alguns desses bairros reservados aos negros.


Foi nesse ambiente que se criou o mito Elvis Presley, que, apesar de sulista e branco, aparentemente não era preconceituoso. Soma-se a isso o fato dele ter talento musical e estava criada a oportunidade. Presley, um branco, fez sucesso (entre um público majoritariamente branco) cantando música negra. E, nisso, eu concordo integralmente com o senhor. A ocasião (ou a oportunidade) fez o ladrão. Mas é importante salientar que Elvis foi, de fato, um produto criado pela indústria fonográfica americana para atender aos anseios de uma populaçãoque não admitia ouvir uma canção (mesmo que o ritmo fosse envolvente) cantada por um negro.


Tentar discutir (e negar) o talento de Michael Jackson é realizar um trabalho de Sísifo. Dizer que a fórmula da oportunidade (usada provavelmente pela primeira vez na indústria músical por Elvis) é (foi) a condição sine qua non para o sucesso de Michael é de uma idiotice sem precedentes...

Michael, ao contrário de Elvis, criou um novo jeito de fazer música (e de comercializá-la). Ao incorporar o jazz, o Rock (olha o Elvis aí!), o Soul e Funk ao Rhythm-and-Blues (às vezes em apenas uma música, como no caso de Billy Jean), Michael ajudou (juntamente com o produtor Quincy Jones) a moldar a música POP. Nesse sentido, as carreiras de Elvis e Michael se encontram. Ambos os dois foram fundamentais para o nascimento e o desenvolvimento da música popular como conhecemos hoje em dia. Ou o senhor vai tentar me convencer que não há ecos da obra do M.J. Na música feita atualmente? Ou o senhor vai tentar me convencer que a música do M.J. Não influencia desde Beyoncé até o seu querido Tom Zé?

As diferenças entre os dois todo mundo está cansado de saber. Enquanto Elvis era branco, bonito e talentoso (e tinha público por isso), Michael era preto, feio e talentoso. E cresceu economicamente e musicalmente por isso, pelo talento. Michael não tinha público específico. Quando nasceu os negros eram segregados em alguns estados. Quando morreu, um negro era presidente da República. Seria até exagero dizer que Michael participou e foi um dos protagonistas da tranformação de uma sociedade racista em uma sociedade (quase) pós-racial. O fato dele ter virado branco (apesar de ridículo) atesta isso.

Por isso, amigo Eduardo, não reconhecer o óbvio é idiotice. Não deixe que suas idiossincrasias o transformem num doidivanas!

(Sem Revisão)

PS 1: Eu gosto mais da fase decadente do Elvis Presley, gordo, suado, cantando num ringue de boxe;
PS 2: O artigo anterior não foi copiado da Wikipédia. Este site nem ao menos foi consultado. Da próxima vez, prometo informar minhas fontes;
PS 3: Provocações com o nome do blogue para me atingir é o mesmo que colocar a mãe no meio em briga de futebol;
PS 4: Elvis Presley é considerado “Rei do Rock”, enquanto Michael Jackson é considerado “Rei do Pop”. Mas, isso é apenas um detalhe e, “Detalhes”, como sabemos, é com um outro Rei que nada tem a ver com essa história;
PS 5: Aparentemente os dois morreram de overdose de medicamentos. O Michael eu não sei, mas dizem que o Elvis foi encontrado “de quatro” no banheiro;
PS 6: Por mim, essa discussão termina aqui;
PS 7: Cansei. Foda-se!

Um comentário:

Eduardo Albuquerque disse...

Você passou uma discussão baseada em argumentos para uma discussão baseada em sentimentos,a partir do momento em que usou os meus argumentos que justificavam a genialidade do elvis e tiravam esse titulo do Michael para dizer o contrario.

Virou a briga de:

"É sim" / "Não é".